Decidi criar gritos dentro de mim. Abro a boca e engulo todos os sons que consigo. 
Depois, não os deixo sair. 
...Tinha gritos fechados há tanto tempo no meu peito que, quando os soltei, saíram corcundas.
...Fui até ás montanhas junto ao mar. Lá em cima, abri a boca para soltar um grito que tinha ficado esquecido.  Não quis sair. Tive de o expulsar aos berros.
Os gritos, quando passam muito tempo presos, ficam uma porcaria. Como os vegetais no frigorífico.
O livro do ano, Afonso Cruz

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